O que será que um texto precisa ter para ser categorizado
como escrita feminina? Será que ele precisa ter sido escrito por uma mulher?
Será que tem mais a ver com a estilística do texto?
Bem, segundo a autora Lúcia Castello Branco, em seu livro “O
que é a escrita feminina?”, lançado em 1991, o que se delimita como “Escrita
Feminina” tem pouco a ver com uma categorização sexual, mas sim com a estética do
texto, sendo assim, é possível entender que a escrita feminina pode ser
identificada, inclusive, na escrita de homens.
A partir da análise de vários textos escritos por mulheres,
a autora conclui que, inicialmente, os temas tratados por essas mulheres eram
diferentes: elas falavam sobre a maternidade, o próprio corpo, a infância, etc.
Essas temáticas se explicam a partir do contexto histórico: já que as mulheres
não iam para as guerras, elas não
escreviam textos épicos, por isso a preferência por textos autobiográficos, pois o mesmo têm relação com essa questão da memória, da casa, da infância e do
"eu".
Se tratando de estética, a autora analisa que esses textos
possuem certo tom, ritmo, uma dicção diferenciada e uma respiração própria,
como podemos ler no trecho:
“Mas o
que me interessava, já de início, residia não tanto
nas
profundezas dos textos produzidos pelas mulheres,
mas em
sua superfície: na inflexão da voz, na respiração
em
geral simultaneamente lenta e precipitada, no tom
oralizante
de sua escrita. E essas características – cedo eu
admitiria
– não se restringiam aos textos produzidos por
mulheres
(...)” (BRANCO, 1991:14)
No trecho
destacado é possível perceber que essas características descritas pela autora
também são encontradas em textos de autoria masculina, como de James Joyce e
Guimarães Rosa, por exemplo. Sendo assim, retoma-se a afirmação de a Escrita
Feminina, como estética, não ser exclusiva de mulheres.
Tendo em
vista todo o conteúdo abordado tendo como base o livro de Lúcia Castello
Branco, podemos concluir, como a própria autora, que todas essas características
que se constroem como Escrita Feminina se torna, na verdade, um resumo da
teoria e prática dessa escrita.
“(...)
o fato de a escrita feminina não ser exatamente a escrita
das
mulheres, mas de estar sempre relacionada à mulher, seja
pelo
grande número de mulheres que escrevem nessa
dicção,
seja pela evidência com que esse discurso se
manifesta
no texto das mulheres, ou ainda pela ‘mulheridade’
que
está implicada na escrita feminina, mesmo quando ela é
praticada
por homens.” (BRANCO, 1991: 20)
Fonte: BRANCO, Lucia Castello. O que é escrita feminina. 1 Ed. São Paulo : Editora Brasiliense. 1991
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