sábado, 2 de novembro de 2019

2 anos após, a ERRATA!


    No ano de 1981, dois anos após a publicação do artigo, Ana Cristina Cesar publicou uma errata. Nesta, a autora expõe que teve contato com uma nova literatura de mulher, fazendo com que toda a discussão posterior, a priori, se tornasse anacrônica. Mas que nova escrita seria essa produzida por essas mulheres que fez com que a ensaísta e poeta mudasse de opinião?
    Bem, segundo a autora, nessa nova escrita as mulheres se propuseram a romper com todas as delimitações em que se encaixavam a escrita de mulheres, como uma forma “despoetizar”, neologismo utilizado pela autora. Além disso, era comum encontrar nessa nova produção, certo tom de militância feminista. Sendo assim, aquela poesia de outrora, feita por Cecília e Henriqueta, se tornaram exemplos antiquados e recalcados da posição da mulher.

"(…) Onde se lia flor, luar, delicadeza e fluidez, leia-se secura, rispidez,
violência sem papas na língua. Sobe à cena a moça livre de maus
costumes, a prostituta, a lésbica, a masturbação, a trepada, o orgasmo, o
palavrão, o protesto, a marginalidade. (…) uma proeza militante de troca
em que importam menos os poemas do que uma poética da nova "poesia
de mulher": a lama no terno branco, o soco na cara, o corpo a corpo com
a vida.” (Ana Cristina Cesar, 1979 apud Armando Freitas Filho, 1999)

    Como podemos ver no trecho, houve uma reviravolta nas temáticas abordadas pelas mulheres. Onde antes lia-se subjetividades, passou-se a ler uma verdade nua e crua. Acontece que até mesmo essa liberdade dos temas se tornou uma caixa, mesmo que apresente características totalmente opostas às apresentadas antes como “Escrita feminina”, havia novamente um recorte quase que preciso do lugar que deveria ser ocupado pela mulher na literatura.

“E está dado novamente o lugar preciso que a mulher tem de
ocupar para se reconhecer como mulher. Fechou-se o ponto
de reapreensão da literatura feminina. Voltamos ao ponto de
partida.” (Ana Cristina Cesar, 1979 apud Armando Freitas Filho,
1999)

    As produções literárias femininas despiram-se de pudores, mas mantiveram-se presas a uma caixa, como se tudo o que fugisse um pouco dessa caixa não fosse considerado como uma “Literatura de mulher”.
   Nos próximos posts apresentarei a vocês duas grandes autoras: Adélia Prado e Hilda Hilst. Além delas, falarei um pouco mais sobre Ana Cristina Cesar, saindo do lado ensaísta e apresentado o lado poeta da autora. Até a próxima!

Abraços!

Fonte: CESAR, Ana Cristina, 1952-1983. Crítica e Tradução/Ana Cristina Cesar;[prefácio Alice Sant’Anna]. – 1ª Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. Disponível em: https://issuu.com/gabrielasobral1/docs/literatura_e_mulher_essa_palavra_de


Nenhum comentário:

Postar um comentário